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Moabe
Moabe

Moabe

 

Moabe era esse o nome da tal cidade pacata. Algo bem declarado aos olhos dos que passavam por ali só de passagem. Fatos que jamais pudessem ser considerados como realidade aos acontecimentos por ali ocorridos.

Já estávamos no ano dois mil e quatro.

Grandes boatos continuavam a acontecer. Mas nem todos levavam a sério, principalmente os que não acreditavam em lendas. Para esses, os que comentavam e o que em Moabe acontecia, nada mais se passava de uma brincadeira estúpida de mercenários que procuravam se apoderar das crenças, a fim de arrancar dinheiro dos curiosos que se atreviam a usufruir de tudo aquilo como uma adrenalina. 

— Tome muito cuidado com o que deve e o que pode fazer por aqui. Afinal, Moabe pode ser uma cidade pacata, mas sem coração aos que intrometem em suas feridas. – alertava um senhorzinho, de aparência nada mais do que um metro e sessenta de altura, enquanto um dos olhos só lhe servia de enfeite, já o outro, o auxiliava pelos dois. Um senhorzinho de aparência física gordinho, já sem algum cabelo para contar histórias.

O único cara que estaria a sua companhia sentado ao redor da mesa, trancafiados numa pequena sala, sem muita estrutura, mas considerada a única delegacia da Cidade, era chamava Arthur. Era ele que substituiria o tal velhinho dali a diante, na função de delegado.

Arthur tinha na certa... a metade da idade do tal Senhor, o qual se apresentava como Sr. Diógenes Arruda.

Arthur evitava apresentá-lo nas últimas conversas, um cara antipático, mas não lhe dava muita atenção aos seus conselhos. Sr. Diógenes Arruda aparentava pegar o recado, mas também não se importava, pois o importante para ele, não era que Arthur acatasse o aviso e sim, fosse testemunha das últimas palavras.

Num curto tempo eles se despediam. Arthur o levava até ao táxi que o aguardava na entrada da delegacia.

O táxi logo partia, enquanto Arthur incrédulo aos recados, assistia a sua partia diante de um alívio, acreditando que dali em diante, estivesse numa missão mais sossegada em sua vida.

Aproveitando-se daquele instante, apreciava as paisagens que aquela cidade pacata lhe oferecia para contemplar.

— É o cúmulo alguém acreditar numa mesmice dessas. – duvidava ele, despercebido em voz alta, logo se virando, a fim de entrar na delegacia.

— Está falando sozinho Sr. Delegado? – bisbilhotava uma bela mulher, aparentando a mesma idade dele. Sem ao menos cumprimentá-lo, aproximando-se com um belo sorriso.

— Não é bem falando sozinho. Mas é me deliciando do sossego que a cidade aparenta nos dar.

Ambos, já mais próximos, pausavam os passos, era como se seus olhos prosseguissem seus diálogos. Aquela cena teve uma duração de quase dez minutos.

— Comenta-se que Moabe é como uma sereia, hipnotiza ao primeiro olhar seus viajantes. – inibia-se ela, enquanto ele continuava com o mesmo olhar.  — Bem, deixe-me ir. Acho que não nos encontramos numa boa hora.

— Espere. Não quer entrar para nos conhecermos melhor?

— Não sei se deveria. Pois sabe lá o que o povo pode pensar...

— O povo não tem nada a pensar. Qualquer coisa, alegamos que você está me mostrando o melhor que Moabe tem a oferecer, afinal, daqui em diante vamos ser vizinhos.

— Vizinhos? Que eu saiba aqui é uma delegacia?! – surpreendia a tal mulher.

— Com certeza. Mas como sou o novo delegado, daqui pra frente preciso conhecer melhor o que Moabe possa me oferecer. Já estou até de mudança para cá.

— Tá brincando?!

— Tô não. Pra dizer a verdade, vou precisar e muito da amizade dos moradores daqui. 

— Se eu fosse o Senhor não se arriscaria, afinal, o povo daqui é muito estranho. Uns gostam de mexericos e outros são muitos misteriosos. 

— Pelo jeito o povo daqui leva muito a sério o que se comenta por aqui. – ria Arthur. Em seguida se desculpando e perguntando o nome dela.

Clara, era esse o seu nome. Ela aparentava ter se engraçado com Arthur. Já ele, o mesmo.

— Acredita mesmo que deve ficar por aqui? – preocupava-se ela, diante de um olhar como se já tivesse à tempos conquistado sua amizade.

— É o que mais quero.

— Então não duvide do que ouve por aqui.

— Sou Tomé. Só acredito no que vejo. Enquanto não vejo, procuro trabalhar como no meu antigo posto.

— De onde você é? – bisbilhotava ela, voltando a soltar um riso.

— Quer mesmo saber? – brincava ele, arrancando um resmungo positivo dela. — Então aceite o meu convite. Assim conversamos melhor na companhia de um cafézinho.

— Tudo bem. Já que insiste. Vou aceitar. Mas não leve pra malandragem. – acatava ela, com o mesmo tom de brincadeira.

Juntos, entraram e naquele dia, conversaram e muito. Conversa que influenciou e muito suas amizades. Transformando-se num relacionamento entre eles.

Hipnotizada pelo amor que sentia por Arthur, Clara não escondeu um caso que teria com um rapaz chamado por Carlão. Isso, nos primeiros meses de sua permanência na cidade.

Já Arthur, que no início se importou, procurou deixar o coração falar mais alto, auxiliando-a em tirar de vez Carlão de suas vida. Ficando apenas um para o outro.

Os dois eram os poucos da cidade que não percebiam o sumiço da lenda da mula sem cabeça da cidade. Afinal, Clara já não estaria tendo mais um caso com o compadre Carlão e os que sabiam desse fato, preferiam não se justificar.

O amor de Arthur por Clara era tão grande que muitas vezes o deixava cego, só ele não percebia o que estava fazendo, em nome desse amor. Os que sabiam não arriscavam a dar com a língua nos dentes. Enquanto os que não sabiam, percebendo a mudança da ausência da manifestação da lenda na cidade procuravam uma resposta para aquilo, sem ao menos desconfiar que Arthur mesmo inocente, estivesse por detrás.

Clara lisonjeada pela braveza que Arthur sempre demonstrava, sentindo-se protegida por seu amor, não lhe contou o segredo da mula sem cabeça. Também não lhe contou a lenda do “corpo-seco”, mas como uma coitada, a fim de realizar o último desejo de seu falecido irmão, convenceu de um modo manhoso para que Arthur transportasse o corpo do finado de onde estava para uma cachoeira. Fato realizado. Mas, quem dependia da lenda do “corpo-seco” pelas redondezas, foi prejudicado. Pois com a mudança do mesmo, para a cachoeira, perdeu outros turistas ao saber da fazenda mal assombrada.

Ciente da presença da porca com os leitãozinhos que apareciam e sumiam de uma hora pra outra entre as matas, sem que ninguém visse suas entradas e saídas, Clara resolveu de um modo charmoso, cativar a curiosidade de Arthur sobre a tal vizinha “Maria”; Algo que o surpreendeu, descobrindo que ela teria cometido vários abortos na cidade.

Para os que não haviam notado ainda, era o amor de Arthur e Clara que estaria causando a ausência da manifestação da lenda na Cidade. Há os que comentavam entre amigos que a cidade teria ficado moderna e que não acontecia mais nada por ali, por falta das crenças dos povos que já estavam nascendo ateus.

Como Arthur não acreditava naquilo e com o sumiço de vez daquelas lendas, para Arthur cada dia que se concretizava, sua mente, se fortalecia numa única resposta, de que a melhor coisa que poderia lhe acontecer foi ter ido morar na pacata cidade, de Moabe.

Clara procurava não acordá-lo daquele paraíso. Apenas procurava iludí-lo da melhor forma, que foi ela a melhor coisa que ele pode conhecer em Moabe.

Estrategista, procurou dar-se de solidária, realizando o batismo para os muitos pagãos daquela Cidade. Algo, que Arthur com sua fama de sempre deixar Moabe em boa qualidade de vida em questão de segurança, junto ao seu pedido, conseguiu realizar seu novo pedido. Para ele era mais uma prova de amor. Mas, para quem estava por dentro do caso, poderia notar que aquela era mais uma obra contra as lendas da cidade. Afinal, com a realização do batismo para os pagãos, o lobisomem deixaria de existir, realmente deixando Moabe se tornar uma cidade pacata, mas, privilegiada como outra qualquer dos quatro cantos do nosso país.