O pedalinho
A nova turma era chamada. Os que pertenciam a ela davam os passos locomovendo-se de encontro aos pedalinhos.
— Quero o cisne! – optava Bárbara em companhia do namorado, Edu, sentando-se ao pedalinho escolhido por ela, enquanto locomoviam-se sobre as águas do imenso lago.
— Veja isso! – apontava Edu com os dedos, enquanto Bárbara, pasmada retribuía com olhares a fumaça saindo das águas.
— É a baixa temperatura. Que grau devemos estar?
— Não sei. Mas arrisco na casa dos doze...
— Também não é pra tanto.
— Então tire o guarda-roupa que está em você! – debochava Edu, enquanto ela o encarava com um olhar de desfeita, aparentando não ter gostado.
— Engraçadinho! Arrependeu-se de me pedir em casamento? Seguro de vida não cobra suicídio.
— Ótimo! Pois se você pulasse... Eu pularia junto.
— Faria isso?! - lisonjeava Bárbara, mudando de fisionomia, enquanto comovia-se com as palavras. Edu bem que percebia. Algo que um sorriso zombador escapulia ao seu rosto.
— Lógico. Acha mesmo que gostaria de passar o resto de minha vida numa cela?
A ironia contagiava Bárbara, partindo pra uma estúpida brincadeira com ameaças de empurrões, o empurrando para fora do pedalinho.
— Pare com isso! – reprovava ele.
— Ui! Tá com medo?
— E eu sou homem lá de ter medo de alguma coisa?
Tímida, pela maneira que ele a reprovara, Bárbara deixava de tocá-lo.
— Se barata não te serve como resposta... Digo não.
— Mas eu não tenho medo de barata! Tenho nojo! Algo bem diferente.
— Assim como azul piscina com azul claro?
— Não acredito que fez com que eu gastasse o dinheiro das minhas férias pra ficar atazando-me!
— Desculpe! Desculpe! Só queria brincar um pouquinho!
— Brincar? Você está querendo é brigar, isso sim.
— Já te pedi desculpas.
— Sei. – ridicularizava ele. Enquanto ela se calava, lançando-o um abraço e aconchegando-se ao seu ombro, retribuído por um beijo no rosto.
Minutos mais tarde...
— Ainda bem que sou persistente. – afrontava ela.
— De quê? – esquecia ele.
— De não me abalar por seu medo à barata.
— Ah! Lá vem você. – ridicularizava ele novamente, só que desta vez com ironia. Algo insinuado a um riso malicioso, arrancando cobranças da parte dela.
— O que foi?
— Nada.
— Como nada?
— Nada.
— Edu! – insistia ela.
— Você não pode me chamar de medroso.
— E por qual motivo?
— Oras! Você não vive jogando em minha cara que tenho medo de barata?
— Tenho mesmo que te responder?...
— Sim ou não? – cobrava ele.
— Sim.
— Mas quem tem medo sai correndo e não a enfrenta... – silenciava-se ele, tomado por risos baixos. Algo que a encabulava.
Confusa, Bárbara exigia explicação. Mas ele negava sob risos baixos.
Curiosa, mas sem continuar a entender aquela cena, numa exigência mais rigorosa, cobrava explicação.
Encurralado, Edu encostava o lábio a um dos ouvidos dela, sussurrando, sem perder de vista sua aproximação ao desembargue do pedalinho.
Surpreendida, Bárbara o encarava, apenas o xingando de tarado. Afinal, seu momento de desembargue havia se esgotado.